Sobre os CIEP

 

Arquitetura do CIEP

O gênio de Oscar Niemeyer cria uma escola ampla, bonita, funcional e 30% mais barata que um prédio escolar convencional.

- Conciliando Custo, Beleza e Rapidez
- O Projeto-Padrão do CIEP
- Quem Constrói os CIEPs
- Quanto Custa um CIEP
- Fala Oscar Niemeyer


Conciliando Custo, Beleza e Rapidez

Detalhamento dos projetos de Oscar Niemeyer para o CIEP

Para implantar no Estado um grande número de CIEPs com êxito, era necessário um projeto de arquitetura que desse origem a uma escola bela, ampla, que fosse economicamente viável e permitisse velocidade na construção. Esse desafio de conciliar beleza, baixo custo e rapidez de execução foi confiado ao talento de Oscar Niemeyer - que resolveu a equação da nova Escola Pública de maneira brilhante. Partindo da idéia de utilizar a técnica do concreto pré-moldado, que possibilita montar cada CIEP como um jogo de armar, em um prazo de apenas quatro meses, Niemeyer criou um projeto-padrão que é 30% mais barato que uma obra que utilize a técnica convencional de fazer a concretagem no próprio local de construção. Na obra do CIEP, como definiu o Engenheiro Calculista José Carlos Sussekind, "a arquitetura é inseparável da estrutura; existe uma especial integração arquitetura-engenharia".


 

O Projeto-Padrão do CIEP

Pela concepção de Niemeyer, cada CIEP é composto por três construções distintas: o Prédio Principal, o Salão Polivalente e a Biblioteca.
O Prédio Principal possui três pavimentos ligados por uma rampa central. No pavimento térreo localizam-se o refeitório com capacidade para 200 pessoas e uma cozinha dimensionada para confeccionar o desjejum, almoço e lanche para até 1000
crianças. No outro extremo do pavimento térreo fica o centro médico e, entre este e o refeitório, um amplo recreio coberto. Nos dois pavimentos superiores estão localizadas as salas de aulas, um auditório, as salas especiais (Estudo Dirigido e outras atividades) e as instalações administraticas. No terraço, uma área reservada para atividades de lazer e dois reservatórios de água.
O Salão Polivalente é um ginásio desportivo coberto, dotado de arquibancada, vestiários e depósito par guarda de materiais.
A terceira construção é a Biblioteca, idealizada para atender os alunos tanto para consultas individuais como em grupos supervisionados, estando também à disposição da comunidade. Sobre a Biblioteca, existe uma verdadeira residência, com alojamentos para doze crianças (meninos ou meninas), que poderão morar na escola em caso de necessidade, sob os cuidados de um casal (que dispõe na casa de quarto próprio, sala comum, sanitário exclusivo e cozinha).
Para os terrenos onde não seja possível instalar todas as três construções que integram o Projeto-Padrão, foi elaborada uma alternativa, denominada CIEP compacto, que é composto apenas pelo Prédio Princnipal, ficando no terraço a quadra coberta, os vestiários, a Biblioteca e as caixas-d'água.
Segundo o próprio Oscar Niemeyer, da idéia de construir escolas em série "surgiu naturalmente a utilização do pré-fabricado, para faze-las multiplicáveis, econômicas e rápidas de construir: nesses casos, é a economia que exige a repetição e o modulado". Mas, a despeito de toda a lógia, surgiram diversas críticas ao Programa Especial de Educação, assentadas numa idéia equivocada: a de que o CIEP é uma escola "mastodôntica, suntuosa e muito cara".
Estes ataques, mais baseados em adjetivos que em substantivos, parecem ter como pano de fundo a crença de que os brasileiros deve conformar-se com a precariedade dos recursos públicos que os governos têm dedicado à rede pública de ensino, ao longo da história do país. Mas a verdade é que o CIEP nada tem de "suntuoso". Ao contrário: é simples, despojado, não utiliza material rococó, supérfluo. E a utilização do concreto pré-moldado possibilita conter despesas consideráveis. Durante a inauguração do primeiro de todos os cIEPs, batizado com o nome de Tancredo Neves, o próprio Governador Leonel Brizola comparou os custos da construção civil e os do projeto de Niemeyer. Pelos seus cálculos, o CIEP Tancredo Neves custou, em 1985, Cr$ 3 bilhões e 978 milhões, enquanto um edifício com a mesma metragem custaria, na mesma época, Cr$ 5 bilhões e 737 milhões.
O que não se pode negar é que o CIEP é bonito, atraente e respeitável, apesar da enorme racionalização da sua estrutura. E talvez seja este o centro de toda a polêmica: o povo não tem direito de ter seus filhos estudando em escolas bonitas e funcionais, arejadas e eficientes? Há quem ache que não. Argumenta-se que somos um país pobre e que, por isso, as escolas devem ser pequenas e humildes. Por que se insiste em associar boa qualidade, beleza e funcionalidade com sofisticação e megalomania? A quem interessa confundir estes conceitos?


 

Quem Constrói os CIEPs

Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, os CIEPs não são construídos pela Fábrica de Escolas que funciona em plena Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro, sob o comando do arquiteto João Filgueiras Lima. A função da Fábrica é preparar os módulos de argamassa armada que entram na construção das Casas da Criança e das Escolas Isoladas que complementam o Programa Especial de Educação.
Os CIEPs são construídos por firmas privadas de engenharia, sob a coordenação do Dr. João Otávio Goular Brizola (foto). Estas firmas são selecionadas por sua habilitação técnica, após rigorosa checagem da experiência prévia que possuam no campo do concreto pré-moldado, levando-se em conta, ainda sua capacidade em cumprir o prazo de conclusão estipulado para os CIEPs. Para eliminar a corrupção que
costumava cercar as obras públicas, a construção dos CIEPs somente é confiada a firmas ganhadoras de concorrência pública, pelo que diversas empresas foram contempladas, refletindo a realidade da Engenharia Civil no estado e contribuindo para a erradicação da prática do nepotismo.
Cada firma de engenharia responsável pela construção de um determinado número de CIEPs precisa implantar uma verdadeira fábrica de pré-moldados, para obter o jogo completo das peças estruturais, que são: os pilares do Prédio Principal, os pilares do Salão Polivalente, as lajes que se apóiam nos pilares e as "gaivotas" (vigas em forma de "y" especialmente projetadas por Niemeyer para a cobertura do Salão Polivalente).
Uma das Fábricas já existentes, para produção em série de pré-moldados, ocupa uma área de cerca de 50.000 m². toda a produção da Fábrica é controlada por 2 computadores: um supervisiona os empreiteiros e o outro mede a eficácia das soluções adotadas.
O ritmo de trabalho é intenso: numa área de 250 metros de extensão, em apenas 10 dias, são produzidas as 14 "gaivotas" de concreto protendido que são necessárias a um CIEP. Em outro setor, cerca de 600 homens produzem 74 lajes e 22 pilares diariamente. Peças que chegam a pesar 14 toneladas e a medir 11 metros de comprimento (como é o caso dos pilares do Prédio Principal) são estocadas verticalmente ou colocadas sobre as carretas que buscam na Fábrica as peças prontas. Betoneiras movimentam-se sem parar, lançando um volume de 300 m³ diários de concreto. A capacidade de produção é de 1,5 escola por semana.
É importante ressaltar ainda que, graças às obras do Programa Especial de Educação, a Região metropolitana do Rio de Janeiro passou a apresentar o menor índice de desemprego do país.


 

Quanto Custa um CIEP

Todo o programa de construção dos CIEPs é executado através e a pedido da FAPERJ - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, sob a coordenação e administração direta do Vice-Governador Professor Darcy Ribeiro, pelo Engenheiro José Carlos Sussekind (que é o responsável, nos últimos 10 anos, pelos projetos de engenharia correspondentes às concepções de Oscar Niemeyer) e também pelo Arquiteto João Otávio Brizola, todos voltados para a tarefa de criar uma Escola Pública digna, onde o aluno permanece o dia todo e, como frisou o próprio Governador Leonel Brizola, "de onde sai jantado e banhado para o carinho dos pais".
A preços atuais, incluindo as despesas com todos os equipamentos necessários, pode-se estabelecer o custo médio de um CIEP em torno de 13 milhões de cruzados.

"Procurei dar às escolas um aspecto capaz de caracterizá-las, destacando-as plasticamente nos conjuntos urbanos da cidade. Isso explica as aberturas arredondadas que coincidem rigorosamente com o sistema de pré-fabricação adotado."

"O mais importante nesse programa de escolas que o Governador Brizola criou é, sem dúvida, o sentido social, o desejo de levar às classes mais pobres, às crianças tão esquecidas deste país, o apoio indispensável, instruindo-as, ocupando-as, dando-lhes a possibilidade de uma participação futura nos problemas da vida brasileira."

"O pré-fabricado limita a nossa fantasia, o nosso desejo de especular nos requintes da técnica do concreto armado. Examinando o projeto do CIEP, é fácil constatar como nele o concreto é bem concebido e como apesar das limitações do pré-fabricado ele se apresenta inovador plasticamente."
Oscar Niemeyer



Fala Oscar Niemeyer

"As críticas que têm sido feitas aos CIEPs são tão levianas, demonstram tal desinformação que, a contragosto, sou obrigado a dar uma explicação desse projeto.
Começarei dizendo se tratar de um projeto revolucionário, sob o ponto de vista educacional. Escolas que não visam apenas como as antigas - a instruir seus alunos, mas sim dar um apoio efetivo a todas as crianças do bairro. E isto explica serem, no térreo, para elas abertos aos sábados e domingos, ginásio, gabinete médico, dentário, bibliotea etc. Daí a dificuldade de utilizar as velhas escolas - vão sendo remodeladas - pois não foram projetadas para esse programa.
Por outro lado, os CIEPs não representam custos vultosos, nem são faraônicos (para usar um termo do agrado da mediocridade inevitável). Obedecem a um programa e não existe mágica em matéria de construção. Pré-fabricados, eles constituem uma economia de 30% em relação às construções do tipo comum - e mais econômicos ainda se tornam por serem de construção rápida, quatro meses, o que é fácil verificar tendo em conta o aumento crescente dos materiais, da mão-de-obra etc. Adaptam-se a qualquer lugar, junto às favelas inclusive, o que é sem dúvida importante, permitindo que os filhos dos favelados sintam que todo um conforto lhes é oferecido, sem a discriminação odiosa que mais tarde e, por enquanto, a vida lhes vai impor. E são simples, lógicos, destacando-se pela sua forma diferente nos setores mais diversos da cidade, revelando assim a grandeza do programa adotado pelo Governador Leonel Brizola, o que, por isso mesmo, parece não agradar a muita gente.
Mas não são apenas estes aspectos, fáceis de explicar, que me levaram a este pequeno texto. Revolta-me, principlamente a desenvoltura com que alguns comentam o programa educativo dos CIEPs sem levar em conta a presença de Darcy Ribeiro, sua autoridade internacional no campo da educação, convidado constantemente para organizar o ensino em países do Novo e do Velho Mundo. E essa revolta cresce quanto sinto que a maioria desses críticos nada entende dos problemas educacionais, limitando-se a opiniões já superadas, fáceis de contestar e definir.
Agora a campanha contra os CIEPs se multiplica quando alguns candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro, ligando-se às correntes mais reacionárias do país, dela passam a participar como se nada tivesse a dizer ao povo sobre os seus próprios programas de Governo. A tudo isso o carioca assiste desiludido, pois, em cada CIEP que surge, uma nova dúvida aparece, a contradizer os que insistem em combatê-los."